sexta-feira, 6 de julho de 2012

Serviçais

Há um ano e tal era a esquerda grande que lhe saía da ladainha sacrista. Agora passou a ser a esquerda dos valores
Quais sejam eles, podes vê-lo na REVISTA do Expresso da semana passada, onde Clara Ferreira Alves entrevista Louçã.


Louçã e a campanha:
- Em Portugal, o Bloco fez mais campanha contra Sócrates do que contra o PSD.
- Sócrates estava no poder. E fizemo-la bem, quisemos sempre ter um diálogo com todos os que no PS possam ter uma voz por uma boa razão.


Louçã e o PEC IV:
- Graças também a vocês, o PEC4 falhou, e veio a troika e houve eleições.
- Estávamos contra o PEC4 e bem. Há uma diferença entre política e prostituição. Votar no PEC4 era a prostituição. A ajuda externa estava pedida com o PEC4. (...) Havendo eleições é  democracia que decide. Quando foi recusado porque a direita o recusou, o PS foi a Belém pedir eleições. O que queria Teixeira dos Santos com o PEC4? Expulsar os inquilinos. Liberalizar os despedimentos. Privatizar a TAP e os CTT. Os hospitais. Ìamos aprovar isto? Seria uma traição.


Louçã e a troika:
- Imagina um governo de esquerda, com o Bloco, que rejeitasse a troika e o memorando. Haveria uma quebra nos pagamentos... Que farias? Como economista tens que ter uma resposta para isto.
- Com certeza. Rejeitar a troika significa que o memorando deixa de ter validade, e que não seremos obrigados a fechar a Maternidade Alfredo da Costa, hospitais...


Louçã e o Euro:
- Se sairmos do Euro, podemos fazer o que quisermos.
- Isso é aceitar uma chantagem moral indigna. Pode ser que a degradação do Euro leve um país a sair, e temos de estar preparados, mas a esquerda não quer a saída do Euro. Só um irresponsável pode dizer que é vantajoso lançar um Escudo que terá um desvalorização de 50%...


Louçã e o PS:
- Sem união à esquerda não há alternativa. E vocês detestam os socialistas.
- Estás enganada. Detestamos os socialistas que nos pedem para sermos liberais.(...)


Louçã e Sócrates:
- Vias Sócrates como um socialista?
- Tinha duas facetas. Tive um almoço com ele no dia em que tomou posse, no 1º mandato. Discutimos quando se deveria fazer o referendo sobre o aborto. No dia do referendo ele ligou-me três vezes e falámos intensamente durante a campanha. Orgulho-me do trabalho que fizemos. E fui eu que convidei Miguel Relvas para fazer parte dos grupos de apoio ao SIM, e ele fez.


- Devemos ao Sócrates essa lei e a do casamento dos homossexuais. Sim ou não?
- Sim. Mas esse era um Sócrates. O outro entregou os hospitais ao grupo Mello e ao Espírito Santo.(...)


Louçã e os Relvas:
- Preferes sentar-te a uma mesa negocial com um Sócrates ou com um António Borges?(...)
- Estou-me nas tintas para o Borges. Não tenho ressentimentos pessoais.(...) Sócrates era um homem dinâmico, que cumpriu o que tínhamos acordado. Mas não podemos ser aliados dum PS comprometido com as políticas liberais.(...)


Nota: Aqui se considera que o PEC IV conduziria provavelmente à troika. Porém, algum tempo mais tarde e noutras circunstâncias, o que teria sido um ganho muito importante.
Capitaneados pelo falso sonso do Cavaco, os Relvas é que ansiavam desesperadamente pela troika, que lhes traria assistência financeira, o poder, e um programa ideológico que não tinham tomates para impor. 
Não escondiam que já era tarde para a chamar. E contra o interesse do país, recorreram a toda a espécie de pulhice, desde a mentira descarada ao Espírito Santo do BES, para forçar Sócrates a fazer o que não desejava, embora provavelmente inevitável. Não queriam ser eles a fazê-lo. Queriam que ficasse na história da chicana politiqueira, conforme ficou, que o governo de Sócrates é que chamou a troika. 
O que hoje temos é o PEC IV vezes sete. E a gentalha que aí está no governo, a transformar-nos a vida num capacho.
A iluminados destes, do tipo do Louçã, só um povo adulto, e lúcido, e esclarecido, coisa que nós nunca fomos, poderia resistir. É que nem os Relvas esperavam tanto destes serviçais!
[Aqui o tens, dito doutra maneira!]