quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Eça

Estes textos são da primeira fase do Eça de Queirós, em que ele ainda não era cônsul em Havana, na Inglaterra e em Paris. Foi nessa circunstância que, em 1869, assistiu com o conde de Resende à inauguração do Canal de Suez, onde conheceu os grandes da Europa. No início de 1870 regressou a Lisboa.
Não se pode dizer que Eça tenha sido o mais fiável observador do Egipto. Adjectivado, impressionista e prolixo, foi o que podia ser.
«(...) Ao fundo, sobre a negra terra de África, erguia-se o Atlas, tão belo, tão forte, tão vivo como nos velhos tempos mitológicos, quando ele sustentava nos ombros gigantescos o céu com todo o seu povo de deuses.
Nada há igual à sensação de se caminhar assim entre arvoredos, vendo sempre reluzir o fino azul da água.
Descansámos um momento num jardim cheio duma doçura infinita. Toda a sorte de árvores, de ramos delgados, se entrelaçam, se prendem e limitam o horizonte, deixando-o entrever apenas, sereno e azulado, para além das suas ramagens. É aquilo, ali, um centro suave, longe do mundo, estreito e ao mesmo tempo ilimitado, onde a vida e a sensação se espiritualizam e se confundem com o alto pensamento vital das coisas. A vida, o ruído, os soldados, os uniformes vermelhos, as trombetas, os véus das mouras - nada ali chega: uma muralha de árvores, de relvas, de plantas, isola aquele lugar de contemplação. (...)».