terça-feira, 18 de abril de 2017

Do estranho caso do meco que queria ser rei à custa da barba longa


O sr. Stephens é um erudito irlandês que decidiu mitificar a gesta portuguesa. É lá com ele, já que é dono do próprio livre-arbítrio. É certo que muitas vezes confunde o leitor e o baratina, com príncipes e reis e imperadores que têm o mesmo nome próprio mas não são idêntica pessoa. Adiante.
O caso vem ao general Junot. Mandou em Portugal durante nove meses, até que foi corrido Espanha fora. Ouçamo-lo.

"Por todas estas razões acolhiam bem os franceses e os chefes do partido democrático desejavam que o imperador Napoleão tomasse posse do reino, concedendo-lhe instituições representativas. Junot, a princípio, procedeu com a maior prudência; é certo que impôs a Lisboa uma contribuição forçada de dois milhões de francos, apoderando-se de todo o dinheiro existente no tesouro; mas ao mesmo tempo lisonjeou o povo português não partilhando o saque com os espanhóis.
O seu segundo passo foi dissolver todo o exército português e aquartelar as tropas francesas nas cidades e praças mais importantes. (...) Não empregou esforços para atrair a si os democratas portugueses, rindo-se das suas ideias constitucionais: hasteou a bandeira tricolor no castelo de S. Jorge, dividiu o país em governos militares comandados pelos seus generais, e finalmente, no dia 1 de Fevereiro de 1807, fez uma proclamação na qual declarava que a casa de Bragança cessara de reinar. Os franceses assenhorearam-se de Portugal, as autoridades administrativas foram demitidas e os generais franceses dominaram o país com autoridade absoluta como governadores militares. (...) Apresentou-se como protector das Letras, sendo eleito presidente da Academia Real das Ciências, no lugar do duque de Lafões. Na esperança de suceder aos Bragança, reduziu a contribuição de 40 milhões de francos, imposta por Napoleão. (...) O principal agente de que se servia para estas negociações era um legista, chamado José de Seabra, que formou uma deputação presidida pelo inquisidor-mor para ir pedir a Napoleão que nomeasse Junot rei de Portugal. (...)
O general Thomiéres, por exemplo, saqueou o mosteiro de Alcobaça e destruiu os ossos dos primeiros reis de Portugal, e o general Loison calcou o povo, sufocando um pequeno motim em Mafra com a mais horrorosa crueldade. (...) Todos os oficiais franceses foram assassinados ou expulsos, constituindo-se Juntas independentes.
Organizou-se também uma Legião Lusitana com os portugueses que por acaso se achavam em Inglaterra, sendo enviada para Portugal sob o comando dos coronéis sir Robert Wilson e Maine. (...) As melhores tropas e os oficiais mais hábeis tinham saído de Portugal na Legião Portuguesa, para se reunirem ao grande exército francês , e os camponeses não disciplinados e os mancebos recrutados à pressa eram facilmente derrotados pelos veteranos franceses. Sir Arthur Wellesley desembarcou na foz do rio Mondego e avançou para sul na direcção de Lisboa. Derrotou a divisão de Delaborde na Roliça, e depois de receber reforços derrotou o próprio Junot no Vimeiro. Seguiu-sea convenção de Sintra, pela qual se concordou na retirada de Junot e na entrega das praças em seu poder, permitindo-se-lhe que as suas tropas pudessem seguir a salvo para França, com tudo o que haviam saqueado. (...)"
Junot enganou-se. O ovo não estava no cu da galinha, e muito menos lá tinha pinto. Acontece!